Quero ficar no teu corpo feito tatuagem,
Que é pra te dar coragem, pra seguir viagem
Quando a noite vem.
E também pra me perpetuar em tua escrava,
Que você pega, esfrega, nega, mas não lava.
Quero brincar no teu corpo feito bailarina,
Que logo se alucina, salta e te ilumina
Quando a noite vem.
E nos músculos exaustos do teu braço,
Repousar frouxa, murcha, farta, morta de cansaço.
Quero pesar feito cruz nas tuas costas,
Que te retalha em postas mas no fundo gostas
Quando a noite vem.
Quero ser a cicatriz risonha e corrosiva,
Marcada a frio, ferro e fogo,
Em carne viva.
Corações de mãe, arpões,
Sereias e serpentes,
Que te rabiscam o corpo todo,
Mas não sente.
Chico Buarque e Ruy Guerra