8 de julho de 2011

De mentiras e beijos


Tudo o que sei é que você mente.
Mente de lábios,
de beijos e promessas.
Mentira cada frase e cada suspiro.
Um mar de decepção me engole e afoga.
Releio palavras, poemas e mato esta saudade.
Mato todos os dias um pouco e cada dia mais.
A dor ruge e devasta,
os sonhos que nunca acordarão,
saliva e dentes ecoam na minha memória.
Calo todos com lágrimas de incredulidade.
Você mente...

20 de abril de 2011

Ausência


O som deste silêncio é ensurdecerdor,
Se infiltra pelas frestas deste quarto,
Se alastra por todos os cômodos,
Abre suas asas negras sobre nosso jardim,
Mata nossas flores,
Nossos planos.
Silenciosamente murmura coisas que não quero ouvir,
Envenena,
Asfixia,
Magoa.
Grito pela casa,
Quebro pratos,
Esmurro as portas,
Mas ele sussurra sem cessar,
Que você se foi.

19 de abril de 2011

Devastação


Desvirginei estas palavras,
Como a dor daquele primeiro amor,
Tomei desta solidão,
Com a sofreguidão dos sedentos,
Desfrutei desta escuridão
Que se alastra em mim como a noite
Rasgando madrugada adentro.
Chorei de você, por você, sem você, para você
até secar a fonte.
Lambi minhas feridas,
Invoquei o mal e te amaldiçoei.
Roubo sua voz, seu sêmen e  seus sonhos
Apago seus rastros, seu cheiro e seu gosto.
Renasço alva, melíflua e livre
Forjada no aço líquido
Do nosso fim.

18 de abril de 2011

A tua semente


Você apareceu
Com o som de mil céus desabando,
Como minha língua no céu de sua boca
Palatando seu sabor de chuva e sal.
E eu me rendi facilmente
Indiferente ao seu olhar perigoso
E eu me deixei levar
Levianamente
lisérgicamente
Em seus cabelos desalinhados
Lobo lúbrico,
Láudano destes dias sem luz,
Eu bebo a vida, semente que você derrama em mim.

20 de janeiro de 2010

Cinco coisas...

Quero apenas cinco coisas..

Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando.

Pablo Neruda

3 de janeiro de 2010

O que pode acontecer?


Pode rolar aquele beijo roubado,
Pode pintar aquele clima no ar...
Posso me fazer de desintendida,
Posso identificar os seus sinais
Aquele que você-sabe-que-eu-sei...
Pode não passar de um sonho,
De um desejo inconsciente,
que posso por para dormir,
ou despertar
Pode virar verdade,
pode virar nossa cabeça...
pode por as ideias no lugar.
Mas que alguma coisa vai acontecer, ahhh isso vai...

27 de dezembro de 2009

Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.

Clarice Lispector

13 de dezembro de 2009

Ideia fixa.


Segue o dia,
E outra noite vem,
Eu só penso em uma maneira de parar.
Parar de pensar, de querer, de respirar.
Você...
Por que você?
De tantas encrencas, de tantas confusões...
Eu podia escolher tantos erros,
mas escolhi você.

28 de novembro de 2009

A língua lambe



A língua lambe

A língua lambe as pétalas vermelhas
da rosa pluriaberta; a língua lavra
certo oculto botão, e vai tecendo
lépidas variações de leves ritmos.

E lambe, lambilonga, lambilenta,
a licorina gruta cabeluda,
e, quanto mais lambente, mais ativa,
atinge o céu do céu, entre gemidos,
entre gritos, balidos e rugidos
de leões na floresta, enfurecidos.
Carlos Drummond de Andrade
 

Designed by Simply Fabulous Blogger Templates